Treze de maio leva tradição às ruas da cidade de Uberaba
Dia é marcado por manifestações daqueles que tiveram seus direitos suprimidos
Leonardo Boloni
7 período de Jornalismo
Neste dia 13 de maio, comemora-se 104 anos da abolição da escravatura. Em Uberaba a data é lembrada pelos ternos de Congo, Moçambique, Vilão e Afoxé. A comunidade negra da cidade faz deste dia uma manifestação festiva da dita libertação dos escravos. É um dia de comemoração e manifestação pelos poucos direitos dos negros em uma sociedade ainda racista.
Os preparativos para o festejo começaram no sábado da Aleluia com os ensaios dos ternos nos quartéis de cada grupo. O clima familiar predomina durante os ensaios. Velhos, jovens e até crianças de colo se unem num só objetivo: de fazer a melhor apresentação no grande dia (13 de maio). "É tanta gente, que tem que pedir licença para poder entrar. Ali a criança já envolve com o batuque e já quer dançar", ressalta o Capitão das Caixas do Terno Zumbi de Palmares, Júlio César Batista de Paiva, 39 anos. Desta forma a tradição é repassada dos mais velhos para os mais novos, mantendo as raízes culturais e crenças religiosas desses grupos.
A festa em si, é uma representação de coroação do rei do Congo, onde os vários ternos prestam a homenagem aos festeiros do ano. Começa na alvorada do 13 de maio e se estende ao longo do dia, fazendo cortejo da imagem de nossa Senhora do Rosário, protetora dos escravos. Da casa da festeira, onde são prestadas as primeiras homenagens, os ternos se dirigem à praça Santa Terezinha, onde homenageiam a Princesa Isabel, em frente ao busto erguido no local. De lá, seguem até a praça Comendador Quintino, tocando seus instrumentos, cantando e fazendo evoluções que deixam os espectadores curiosos. Nesta praça eles reverenciam a imagem de uma mãe negra com seu filho nos braços. Depois seguem para a igreja São Domingos, onde é realizada uma missa em louvor à Nossa Senhora do Rosário.
Mesmo havendo diferenças entre as origens e funções de cada terno, a devoção à Nossa Senhora do Rosário e homenagens à princesa Isabel e José do Patrocínio, marcam este dia de festa.
O papel dos festeiros é fundamental, são eles quem orientam os grupos e acolhem as sugestões de todos os ternos. "É uma responsabilidade muito grande, temos que nos preocupar com o fardamento, calçados, alimentação, tudo para garantir uma boa festa no dia 13 de maio", disse o festeiro Luiz Marcelo Conceição. A festeira deste ano é Patrícia Jaqueline Teixeira, 19. "É com muita garra e fé que fazemos a festa acontecer".
Mesmo que o dia 13 de maio caia num dia de semana, como é o caso deste ano que será na segunda-feira, a participação dos ternos não é limitada. "Tem gente que até mata serviço e deixa a família em casa, mas não perde a oportunidade de fazer parte da festa", assegura o Capitão Júlio César.
Todo terno tem sua história, geralmente ligada à sua crença e raíz. Um dos "caçulas" da cidade é o Terno de Moçambique Zumbi dos Palmares, formado em 98. Ele foi fundado por José Reinaldo Teixeira, devido a uma promessa feita a Nossa Senhora do Rosário em prol da reuperação de sua filha.. "No 13 de maio de 1996, minha filha Patrícia saiu de bicicleta a pedido da avó. Ao descer o morro o freio da bicileta falhou. Foi um acidente feio.", lembra o pai. "Não se sabia quem era a Patrícia ou a bicicleta", completa Júlio. Desde então, José Reinaldo prometeu à Nossa Senhora do Rosário, levantar um terno de Moçambique e mantê-lo durante sete anos. "Quem a viu na época e a vê hoje diz que a Patrícia nasceu de novo". O pai se orgulha mais ainda ao ver que sua filha é a festeira deste ano.
O festeiro Luiz Marcelo também tem uma história de fé por trás de seu envolvimento na tradição. Aos seis meses de idade, precisou se submeter a uma cirurgia no ouvido. Sua mãe fez uma promessa a Nossa Senhora do Rosário, de que se desse tudo certo, ele iria começar a dançar aos sete anos. Marcelo, hoje com 42 anos, é uma pessoa muito envolvida no festejo.
José Reinaldo Teixeira que também é presidente da Associação de Congada, Moçambique, Vilão e Afoxé de Uberaba, explica que a festa, além de comemorar a libertação dos escravos, é uma manifestação dos negros em relação a sua pseudo liberdade, como faz questão de frisar José Reinaldo. "Nossos antepassados foram libertos, mas não lhes deram um pedaço de terra para plantar ou enxada para que pudessem trabalhar", conta. A falta de trabalho e de oportunidades de desenvolvimento social enfretadas pelos negros após a abolição, fizeram com que muitos optassem por continuar com seus senhores. Nos anos que se seguiram as oportunidades foram cavadas paulatinamente. Hoje a desigualdade ainda persiste. Os negros representam minorias nas faculdades e compõem a grande porcentagem das classes economicamente inferiores.
"Hoje homenageamos àqueles negros que nas senzalas sofreram, nos troncos morreram, e as mães que tiveram seus filhos arrancados para nunca mais vê-los", explica José Reinaldo. De acordo com ele, os negros ainda são cativos, ainda vão para o tronco e são chibatados, de uma forma ou de outra, ainda sofrem os reflexos de seu passado. Por isso, para o General, o dia 13 de maio se transformou em um manifesto. "É uma forma de manifestar festivamente, com alegria, tradição e dignidade. Quando ouvimos uma caixa maiá, a emoção toma conta de nós. É uma coisa incrível", completa.
A festa em si, é uma representação de coroação do rei do Congo, onde os vários ternos prestam a homenagem aos festeiros do ano. Começa na alvorada do 13 de maio e se estende ao longo do dia, fazendo cortejo da imagem de nossa Senhora do Rosário, protetora dos escravos. Da casa da festeira, onde são prestadas as primeiras homenagens, os ternos se dirigem à praça Santa Terezinha, onde homenageiam a Princesa Isabel, em frente ao busto erguido no local. De lá, seguem até a praça Comendador Quintino, tocando seus instrumentos, cantando e fazendo evoluções que deixam os espectadores curiosos. Nesta praça eles reverenciam a imagem de uma mãe negra com seu filho nos braços. Depois seguem para a igreja São Domingos, onde é realizada uma missa em louvor à Nossa Senhora do Rosário.
Mesmo havendo diferenças entre as origens e funções de cada terno, a devoção à Nossa Senhora do Rosário e homenagens à princesa Isabel e José do Patrocínio, marcam este dia de festa.
O papel dos festeiros é fundamental, são eles quem orientam os grupos e acolhem as sugestões de todos os ternos. "É uma responsabilidade muito grande, temos que nos preocupar com o fardamento, calçados, alimentação, tudo para garantir uma boa festa no dia 13 de maio", disse o festeiro Luiz Marcelo Conceição. A festeira deste ano é Patrícia Jaqueline Teixeira, 19. "É com muita garra e fé que fazemos a festa acontecer".
Mesmo que o dia 13 de maio caia num dia de semana, como é o caso deste ano que será na segunda-feira, a participação dos ternos não é limitada. "Tem gente que até mata serviço e deixa a família em casa, mas não perde a oportunidade de fazer parte da festa", assegura o Capitão Júlio César.
Todo terno tem sua história, geralmente ligada à sua crença e raíz. Um dos "caçulas" da cidade é o Terno de Moçambique Zumbi dos Palmares, formado em 98. Ele foi fundado por José Reinaldo Teixeira, devido a uma promessa feita a Nossa Senhora do Rosário em prol da reuperação de sua filha.. "No 13 de maio de 1996, minha filha Patrícia saiu de bicicleta a pedido da avó. Ao descer o morro o freio da bicileta falhou. Foi um acidente feio.", lembra o pai. "Não se sabia quem era a Patrícia ou a bicicleta", completa Júlio. Desde então, José Reinaldo prometeu à Nossa Senhora do Rosário, levantar um terno de Moçambique e mantê-lo durante sete anos. "Quem a viu na época e a vê hoje diz que a Patrícia nasceu de novo". O pai se orgulha mais ainda ao ver que sua filha é a festeira deste ano.
O festeiro Luiz Marcelo também tem uma história de fé por trás de seu envolvimento na tradição. Aos seis meses de idade, precisou se submeter a uma cirurgia no ouvido. Sua mãe fez uma promessa a Nossa Senhora do Rosário, de que se desse tudo certo, ele iria começar a dançar aos sete anos. Marcelo, hoje com 42 anos, é uma pessoa muito envolvida no festejo.
José Reinaldo Teixeira que também é presidente da Associação de Congada, Moçambique, Vilão e Afoxé de Uberaba, explica que a festa, além de comemorar a libertação dos escravos, é uma manifestação dos negros em relação a sua pseudo liberdade, como faz questão de frisar José Reinaldo. "Nossos antepassados foram libertos, mas não lhes deram um pedaço de terra para plantar ou enxada para que pudessem trabalhar", conta. A falta de trabalho e de oportunidades de desenvolvimento social enfretadas pelos negros após a abolição, fizeram com que muitos optassem por continuar com seus senhores. Nos anos que se seguiram as oportunidades foram cavadas paulatinamente. Hoje a desigualdade ainda persiste. Os negros representam minorias nas faculdades e compõem a grande porcentagem das classes economicamente inferiores.
"Hoje homenageamos àqueles negros que nas senzalas sofreram, nos troncos morreram, e as mães que tiveram seus filhos arrancados para nunca mais vê-los", explica José Reinaldo. De acordo com ele, os negros ainda são cativos, ainda vão para o tronco e são chibatados, de uma forma ou de outra, ainda sofrem os reflexos de seu passado. Por isso, para o General, o dia 13 de maio se transformou em um manifesto. "É uma forma de manifestar festivamente, com alegria, tradição e dignidade. Quando ouvimos uma caixa maiá, a emoção toma conta de nós. É uma coisa incrível", completa.
http://www.revelacaoonline.uniube.br/a2002/cultura/abolicao5.html